segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D

D. . Caso do Vestido

Carlos Drummond de Andrade

Nossa mãe, o que é aquele vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe? Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa. Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego, está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai palavras de minha boca.

Era uma dona de longe, vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado, se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida, se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne, bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço, foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou. Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda, dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo, lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou. Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse, a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais? Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido, me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele se a senhora fizer gosto,

só pra lhe satisfazer, não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai, os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim, os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda, de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal, me curvei... disse que sim.

Sai pensando na morte, mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas, passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes, não comia, não falava,

tive uma febre terçã, mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo, fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos, costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram, meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro pagou conta de farmácia.

Vosso pais sumiu no mundo. O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina, com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho, não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda. Mas te dou este vestido,

última peça de luxo que guardei como lembrança

daquele dia de cobra, da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele, ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado confessou que só gostava

de mim como eu era dantes. Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo, no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos, me lancei na correnteza,

me cortei de canivete, me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina, rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu: vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa que recorda meu malfeito

de ofender dona casada pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela, quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso, quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela, boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia. Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido e disse apenas: — Mulher,

põe mais um prato na mesa. Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor, era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado e nem estava mais velho.

O barulho da comida na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz, um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho, vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço vosso pai subindo a escada.

Texto extraído do livro "Nova Reunião - 19 Livros de Poesia", José Olympio Editora - 1985, pág. 157.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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A vida da voltas...
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sexta-feira, 29 de julho de 2011

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"Liberdade é estar bem com a vida que se propõe."

Madame Li
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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ão





Vou levando a mala e a vontade de permanecer em hibernação.
Não é deprê, é mesmo confusão.
Quando a mente se encontra em estado de total animação
e consequentemente desorganização,
é preciso uma interrupção.
Uso um stand by básico.
Mas não é "preciso" de precisar, necessitar.
É "preciso" de precisão, pontuação.
Antes de qualquer decisão organize e planeje. 
Em seguida impiedosa execução. 
Se for capaz, no final faça uma mensuração.
No percurso é permitido devanear.
Afinal ninguém é de ferro e aqui não há pretensão de exatidão.
Esta deixo para o exercício de outros, o meu querer é pensação.
Sou inquietude, emoção, tesão, aflição.
Sou muito mais ão.
Mas vai que numa dessas eu acerto o passo e repasso o que há de vão!

Madame Li





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Eu hoje acordei querendo ganhar o mundo.
Fazer meus caminhos novos,
conhecer demais horizontes,
descobrir fortes sabores e tocar o céu azul.
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Madame Li
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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Dia Mundial do Café

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Esta é a bebida que mais aprecio, depois do vinho. Mas confesso:

"SOU UMA ADORADORA DE CAFÉ".

Vi em sum site algumas dicas para preparar o café como realmente deve ser feito.

Leia toda a matéria na Revista Cafeicultura acessando o link abaixo.



Agora que leu todas as dicas, aprecie esta bebida saborosa e tenha um belíssimo dia.

Afinal de contas a cafeina estimula os sentidos e acorda pra vida.
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quinta-feira, 10 de março de 2011

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" Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta ;
não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
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Cecilia Meireles
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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011


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"Que 2011 seja a oportunidade que espera para fazer-se como sempre desejou.

Muita saúde, paz e prosperidade!"
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


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Contra o Tempo

Composição: Vander Lee

Corro contra o tempo pra te ver Eu vivo louco Por querer você Oh! Oh! Oh! Oh! Morro de saudade A culpa é sua...

Bares, ruas, estradas Desertos, luas Que atravesso Em noites nuas Oh! Oh! Oh! Oh! Só me levam pra onde está você...

O vento que sopra Meu rosto cega Só o seu calor me leva Oh! Oh! Oh! Oh! Numa estrela prá lembrança sua...

O que sou? Onde vou? Tudo em vão! Tempo de silêncio E solidão...(2x)

O mundo gira sempre Em seu sentido Tem a cor Do seu vestido azul Oh! Oh! Oh! Oh! Todo atalho finda Em seu sorriso nú...

Na madrugada Uma balada soul Um som assim Meio que rock in roll Oh! Oh! Oh! Oh! Só me serve Prá lembrar você...

Qualquer canção Que eu faça Tem sua cara Rima rica, jóia rara Oh! Oh! Oh! Oh! Tempestade louca No Saara....

O que sou? Onde vou? Tudo em vão! Tempo de silêncio E solidão...(2x) . .

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Organiza o Natal

. . . . Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo. Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento. A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro. A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém. Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz. O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor. Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível. A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã. O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive. E será Natal para sempre.

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Carlos Drummond de Andrade

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Voar

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A vontade é de voar pelos lugares mais distantes, mais quietos, mais em paz.
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

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Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;

Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;

Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;

Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
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Eclesiastes 3

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

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Que “Deus” nos proporcione sabedoria, para que possamos respirar com liberdade, como "Ele" nos permite, e saibamos conduzir nossas vidas por caminhos de lucidez com muita paz no coração. Amém.

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