terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Normose

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo. A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a autodepreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de autoestima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Martha Medeiros ( 05.08.07-Jornal Zero Hora-P.Alegre-RS)
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O artigo "Normose" foi editado neste blog, utilizando as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, adotado em janeiro de 2009.
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3 comentários:

Rayane Martins disse...

Adoooro essa crônica da Martha Medeiros!
E a foto arrasô hein?!

Bju realeeeza!

Anônimo disse...

A normose ou esta tentativa de se encaixar em um padrão é uma questão tão inerente a sociedade,q se torna subjetiva e inconsciente.Passamos a cobrar de nós mesmos e absorver as expectativas dos outros...a buscar os ideais impostos pela família,amigos,igreja,estado,enfim,pelos q determinam valores e regras.
Assim,a singularidade se perde,a expontaneidade se extingue e formamos massas de seres = e sem personalidade.
Nós que tomamos consciencia disso e conseguimos escapar um pouco desta mesmice,enfrentamos olhares e preconceitos,mas, conhecemos o gosto bom que tem se vestir por si mesmos,dizer o que se pensa,chocar os "normais" e levar a vida da forma que se deseja...pagamos um preço por isto,mas sermos unicos não tem preço.Quem condena o diferente,projeta nele o desejo de tb sÊ-lo!!!!
Forte abraço a todos os diferentes,exóticos e marcantes!!!!!!
F.C.R

Anônimo disse...

Muito bom, adorei!
E o que é melhor é quando a gente se "livra" desta doença, que combina com neurose.
Beijos, Clélia